Aqui dentro, sinto o perfume que está lá fora. Estilhaçado. É como uma maldição, pois agora sinto o seu cheiro o tempo todo, é como se você tivesse escolhido ficar ou voltar. A dor agora tem nome, som e cheiro. É um símbolo da minha insanidade, do meu estado de espírito agora caótico, da mente já doente, um símbolo além de um perfume. Ele tinha um perfume de quando era só um menino cheio de sonhos, aquilo ficou guardado comigo, e após trabalhar por algumas horas eu escolhi e comprei, entreguei tão feliz!. Hoje eu escutei que ele se ferrou, e tudo bem se ele não tivesse dado risada. Bom, eu acho que quem de ferrou foi eu, e em um símbolo de ódio, caos, dor e indignação, eu quebrei o frasco, mas não se preocupe, nada pode se quebrar como um coração, nada pode ser partido como um coração. Em metáfora poderia pedir a ele, para se desculpar com o objeto, e tentar colar todos aqueles cacos, claro que não é igual, é impossível ressignificar e juntar um coração que foi estilhaçado. Agora é tudo tão confuso, em um ciclo vicioso de corações partidos, eu não tenho mais forças para lutar. Infelizmente, sou autodestrutiva, e eu já estive aqui antes, com essa velha amiga, inclusive, hello my old friend. Hoje quero falar do processo da calmaria até a autodestruição. Eu entendi que tudo começa quando as pessoas passam a não ser quem costumavam ser, e tudo bem mudar, eu sou também aquela metamorfose ambulante, mas entendo que as partes boas devem permanecer, do contrário não é evolução, não é mesmo?
Aos 26 anos, 5 meses do 27, eu achei que estivesse preocupada com meu futuro casamento, minha casa, minha carreira, mas tudo isso agora é muito distante visto aqui do poço. Eu me olho, e vejo o quanto regredi, é dolorido.
Depois dessa etapa de mudanças, tudo começa a ficar confuso, todos eles tem o mesmo modus operandi, falam e dizem que não falaram, fazem e dizem que não fizeram. Todos me abandonam em algum momento, e todos de forma presencial, por incrível que pareça. Parece até sadismo, mas em um momento ele descobre o meu gatilho, e continua e continua até que eu surte. E nunca parece o suficiente, e é volátil, em um momento é 8 e no outro ele é 80.
Uma ferida nem cicatriza e vem outra e outra. É humilhante.
Talvez eu me machuque muito fácil, mas é um fato que eu tolero a dor por longos períodos. As vezes penso que sou eu alguém problemático, talvez, mas eu penso em tudo que eu fiz de bom e ruim, e eu custo a achar a parte ruim. Eu dou a liberdade, eu não interfiro nas amizades (até ser traída por elas), mas pra mim, é quase intolerável mentiras, omissões, falsidades, não suporto a ideia de que quem eu amo tentou me enganar. Isso é dilacerante, e a partir daí cada situação é acumulativo, até o momento que eu não aguento, me entrego, aceito que perdi a batalha, não posso lutar por nós. Preciso iniciar o processo de cura, e somente o tempo e a distância podem curar.
Eu já conheço esse filme, é um processo como o luto, primeiro a gente se nega a acreditar que aquele relacionamento vai te ferir, que ele provavelmente não vai dar certo, depois sentimos raiva, é o surto, a raiva da negligência dele com meus sentimos, com meu amor. Depois vem a barganha, acreditando que tudo vai se resolver, tentando de novo, entregando sua sanidade e abrindo mão de si mesma pelo outro, em troca de uma migalha de momentos felizes. Depois a depressão, minha old friend. Ficamos debilitadas, sozinhas, sem forças, com dores, apáticas, tristes, uma tristeza infinita, nossa como essa etapa é difícil, e muitas pessoas permanecem nela, eu consegui sair uma vez para a próxima fase, mas foi muito difícil, e é dolorido ver que voltamos aqui. É uma dor física, tão mas tão incapacitante, é degradante, humilhante, vivendo com olhos inchados, mal vestida e cabeços bagunçados. Por fim, para quem consegue, temos a última fase, aceitação. O famoso aceita que dói menos, aceita que fez o que tinha que fazer, que as coisas acontecem como tem que acontecer e isso traz paz. Eu acrescentaria mais uma fase, a da esperança, de que o próximo dia será melhor que outro, e que o outro, e logo serão apenas estranhos, esperança de que coisas novas coisas virão, novas pessoas, novas experiências, quem sabe o que o destino têm pra gente?
O processo é lento e dolorido, mas necessário.
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